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Foto do escritorContextualize UEMG - Passos

Uma longa jornada de sorvete

Um emprego muito comum em tempos passados, o vendedor de sorvete ambulante tem perdido espaço em meio a tantas lojas e franquias que vendem uma variedade infinita da sobremesa gelada, com todo tipo de sabor, marca e preferência que não caberiam nem no melhor dos carrinhos ambulantes.

Mas ainda assim, existem muitos que não desistem e vão às ruas garantir o sustento com esperança e um trabalho digno. Como é o caso do Sr. Sebastião M, de 68 anos, que vende seus sorvetes na Praça da Matriz de Passos (MG) desde sua infância.

Sebastião depende da venda de sorvetes há mais de 50 anos: “adultos, crianças, jovens… ‘tudo’ compra!”, e alega que de sua época para os dias de hoje as vendas decaíram e muito: “hoje, ganho uns 30 reais por dia”, mas afirma que antes dos pontos de comércios, o aumento da concorrência e de sorveterias, as vendas iam muito melhores.

O sorveteiro afirma estar na profissão por não ter condições de trabalhar em outros lugares: “Não aguento fazer outros serviços. Trabalhar de servente, trabalhar na roça… aí eu tenho que vender picolé para conseguir o pão de cada dia” explica o senhor, que há anos fez do banco da praça seu escritório e do sorvete seu pequeno negócio.

Com tantos anos vendendo sorvete na mesma praça, Sebastião viu todo desenvolvimento do centro de Passos. Por entre as árvores e o vai e vem de pessoas, passaram 50 anos de história de uma praça, de uma cidade e dos cidadãos passenses, onde Seu Sebastião viu tudo, aos poucos, mudar diante de seus olhos vividos. Quando perguntado sobre histórias tristes que tenha tido em seus anos de vendedor, a lembrança de jovens usuários de drogas são as que primeiro vem à mente: “malandrinho que fica por aí na praça, maconheiro. A minha tristeza é essa”, desabafa o senhor que viveu em uma época em que eles não existiam por lá.

Sebastião conta de momentos bons em sua rotina: “um amigo meu, quando passa aqui, eu converso com ele. Outros que vêm só compram o picolé e vão embora. Mas com meu amigo tem uns ‘assunto bão’, uns ‘assunto’ de cantoria, assunto de vender picolé, mas quando é sobre alguém da rádio, falamos de cantoria”, Seu Sebastião conta, distraído com os pássaros voando por entre as mesmas árvores que há anos o cerca.

Agradeço Sebastião e me despeço comprando um picolé, deixando que o sorveteiro continue sua quinquagenária e doce jornada na Praça da Matriz, em busca do seu “pão de cada dia”.


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