Por: Julia Evellin
O cenário que marca os 198 anos da independência do Brasil não poderia ser pior, com a pandemia de COVID-19 devastando o país e um (des)governo sendo exemplo de ineficiência em seu controle, as palavras negligência e morte estampam nossa bandeira que está machada com o sangue das vidas ceifadas.
O inicio da pandemia no país anunciava a tragédia que nos atingiu. A postura do Estado frente à realidade nos condenou a um lugar de miséria e desespero. Negando a ciência a qualquer custo, as medidas de contenção definidas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) não foram respeitadas e ainda viraram piada no discurso do presidente e seus aliados.
Os apoiadores dessa ideologia de extrema direita e conservadora que comanda o país se organizaram para “sabotar” as medidas adotadas pelos estados, cometendo atrocidades em nome de seu “messias”. Grupo geralmente constituído por homens da elite ou classe média, brancos e cristãos, eles invadiram hospitais, disseminaram Fake News, interromperam violentamente manifestações, além de defenderem indiscriminadamente o uso de medicamentos que já haviam sido descartados pela ciência para tratamento da COVID-19, tudo isso sem considerar os diversos ataques à democracia e as instituições democráticas.
Com queda de 9,7% no PIB (Produto Interno Bruto), índice que mede a riqueza do país, 129 mil mortos e mais de 4 milhões de contaminados, o falso dilema criado que opunha salvar economia ou salvar vidas caiu por terra quando percebemos que não foi salvo nenhum dos dois. Não faltam exemplos de países, como a Nova Zelândia, que ao realizar uma quarentena rígida, não apenas conteve o avanço da doença na população, como também pouparam sua economia ao se lembrarem de que a riqueza se produz com pessoas vivas.
A desigualdade social ficou ainda mais explicita. Enquanto a elite continua enriquecendo como nunca, obrigando os trabalhadores a continuarem a servir, seguindo suas vidas em suas mansões com dezenas de empregados e se tratando nos melhores hospitais do país, aos trabalhadores é reservado o peso da incerteza de não saber se serão contaminados ou se terão o que comer no jantar, é reservado à falta de medidas de proteção para com a sua vida e dignidade de existência.
A luta por uma renda básica emergencial para a população conseguir sobreviver minimamente se contrasta com os perdões bilionários de dividas de grandes empresas e igrejas concedidas pelo Estado, fora os valores assustadores de dinheiro público que foram dados para as instituições financeiras do país. No meio desses embates sociais, os governantes aproveitaram para, nas palavras do ministro Salles, “passar a boiada”, votando ementas e reformas que retiram direitos do povo e incentivando a destruição do meio ambiente.
Nos últimos dias, imagens das praias e bares lotados nas cidades chocaram o país. Diversas críticas sobre a falta de consciência coletiva da população foram feitas, porém o questionamento que fica é quem são as pessoas que possuem renda suficiente para gastar em um final de semana sem comprometer as despesas pessoais? Os trabalhadores, em boa parte, estão nesses ambientes para servir, e quando estão para lazer, é contraditório dizer que eles não podem frequentar pelo risco de contaminação, mas podem se aglomerar para trabalhar e se deslocar até os postos de serviço. Cobrar isolamento quando isso nunca foi publicamente e politicamente defendendo pelas lideranças, com exceção de núcleos da oposição, é um tanto quanto hipócrita se feito pelas camadas sociais economicamente privilegiadas. As medidas de contenção são de extrema importância, porém como exigi-las se nunca foram realizadas de verdade, se todas as cidades flexibilizaram as regras de restrição?
A pandemia esta longe do fim e seus efeitos desastrosos prometem se estender por longos anos. O povo brasileiro foi abandonado à própria sorte em meio a uma nuvem toxica de mentiras elaboradas para que padecesse sem reagir a toda esse descaso do Estado com a vida.
Artigo desenvolvido para a disciplina de Realidades Econômicas e Políticas Regionais.
3º Período de Jornalismo.
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