Ela é uma das responsáveis por manter a limpeza do município. O trabalho é árduo, existe esforço, preparo físico e muita disposição, mas mesmo assim, Maria do Carmo Lacerda, de 69 anos age como se o emprego de gari fosse um dos mais tranquilos.
Nem sempre sua tarefa foi recolher aquilo que foi deixado para trás, Maria já passou por diversas profissões, entre elas, servente de pedreiro onde distribuía cimento, amassava blocos em forma, furava cisterna, montava casa de adobro; foi faxineira e também trabalhou em uma estamparia.
Mesmo que atualmente esteja aposentada, ela prefere gastar energia em sua ocupação. Para Maria do Carmo o importante é não ficar parada, ainda que muitos a discriminem, principalmente alguns membros de sua própria família, a gari se mostra muito grata pelo que faz.
Conheça mais sobre Maria, uma senhora que desde muito jovem ajudou seus pais com as despesas do lar, sempre está disposta a contribuir de alguma forma e não tem a intenção de parar enquanto estiver com ânimo para realizar os afazeres.
Como é o seu trabalho?
Meu trabalho é na varrição de rua. É ótimo! Funciona por bairro, mas nós chamamos de setor. São dois, um perto da escola Mello Viana, e outro no bairro São Benedito, três dias em um e três em outro. Eu bato ponto dentro do Ônibus que fica perto da escola Polivalente. Saio 5h20, aí 5h40 o ônibus aparece, eu pico cartão e depois volto pra casa e vou trabalhar. Sou só eu quem faço esses setores, mesmo assim a hora passa rapidinho, a roupa não esquenta, você anda no sol e nem sente.
Como essa profissão entrou em sua vida?
Comecei a trabalhar na área quando morei em Ribeirão Preto. Já trabalhei em estamparia de pano, fui faxineira de condomínio. Depois fui chamada para trabalhar como gari, e aceitei. Só em Ribeirão eu trabalhei varrendo rua durante 10 anos. Lá funciona da mesma forma que aqui em Passos, mas eu varria menos porque era eu e mais uma pessoa.
Tem uns vinte anos que eu voltei para Passos, onde nasci. E quando cheguei, já estava aposentada, mesmo assim trabalhei na usina (risos), eu cortava cana, andava atrás dos guinchos e trabalhei por lá durante 12 anos, depois voltei a ser gari. Amo trabalhar, por isso voltei, não consigo ficar sentada em casa, gosto de ter o que fazer e de serviço bruto.
Quais as dificuldades encontrada em seu trabalho?
Nenhuma, nada para queixar. (Risos)
Se você pudesse mudar algo no seu trabalho, o que mudaria?
Mudaria nada, porque eu só sei fazer esse serviço mesmo. Mas até que o salário até poderia mudar, sabe?
Já sofreu algum tipo de discriminação (humilhação) por conta do serviço?
Não. Recebo muitos elogios dos patrões. Já vi mulheres tendo vergonha de pegar em uma vassoura. Uma amiga falou que uma moça de 23 anos começou a trabalhar como gari, mas na metade do caminho começou a chorar, é preciso disposição.
Se pudesse voltar no tempo o que mudaria?
Eu faria coisas que eu não fiz nos anos atrás. Ajudaria mais meus filhos e meus netos. Além disso, buscaria mais conhecimento. A minha infância foi boa, eu sempre ajudei meus pais, sempre estive com eles, mas naquele tempo era assim: Os pais tiravam os filhos da escola para ajudar nas despesas. Eles não ensinavam muitas coisas, aprendi a ser humilde. A humildade era muita, não sabia o que era xingar, o bom, o ruim. Éramos inocentes demais, não tinha malícia, não era que nem hoje. Estudei um ano, entrei no primeiro e saí no segundo. Saí para ajudar eles, mas tá ótimo. O que eu aprendi, tá ótimo!
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