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Saúde pública em Passos gera reclamações

De negligência médica à falta de recursos materiais, moradores exigem que a prefeitura tome atitude em relação aos problemas ocorridos na área da Saúde

Quem precisa de atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em Passos, sente na pele o caos em que se encontra a saúde pública no município. Desse modo, a Unidade tem sido alvo de inúmeras críticas dos cidadãos que procuram por seus serviços. Entre as principais reclamações dos pacientes estão a demora para o atendimento, o despreparo dos profissionais, a falta de materiais e estrutura para acolher a população.

Em consequência, e na tentativa de resolver os problemas que remontam a gestões anteriores, a Secretaria de Saúde determinou em janeiro deste ano a instauração de uma comissão especial. Composta por profissionais da saúde e com a participação do Ministério Público e do Conselho Municipal de Saúde (CMS), essa comissão seria responsável para se discutir as mudanças necessárias na UPA. No entanto, até o momento as alterações não se concretizaram e os usuários do sistema público de saúde continuam insatisfeitos com as dificuldades que encontram para serem atendidos.

DEMORA NO ATENDIMENTO, DESTRATO E DIAGNÓSTICO ERRADO

Douglas Bressane, afirma ter procurado a Unidade de Pronto Atendimento após ter sofrido uma fratura exposta em um acidente de moto no dia 10 de maio. O jovem de 25 anos sentiu-se “destratado” pela enfermeira após ele ter questionado sobre o tempo de espera para ser atendido, algo que teria demorado mais de quatro horas para acontecer, segundo ele. Douglas, também, relatou que foi a primeira vez que teve problemas no atendimento médico, mas se diz totalmente indignado com a questão de saúde da cidade.

Já a diarista de 32 anos, Pollyana Gival, revela que esperou mais de três horas para que sua filha de dois anos fosse diagnosticada. Quando foi atendida, a pediatra afirmou que a criança estava gripada e receitou uma injeção que nenhum farmacêutico da cidade, de acordo com Pollyana, quis aplicar afirmando ser um medicamento muito forte para uma criança.

Ainda segundo a moradora do bairro Nova Califórnia, por conta da ineficiência no atendimento médico em Passos, ela resolveu levar sua filha para ser atendida no município de Pratápolis. “Lá eles atenderam ela muito bem, e foi constado que ela estava com estomatite”.

NEGLIGÊNCIA MÉDICA

Bruna Fonseca, de doze anos, foi levada à UPA por apresentar fortes dores de cabeça na tarde de domingo, dia sete de maio. A pré-adolescente que foi atendida pelo médico plantonista do dia não resistiu e faleceu na quinta-feira, dia onze.

De acordo com Thiago Fonseca, pai da paciente, tudo começou poucos momentos antes de ser levada à Unidade de Pronto Atendimento, quando sua filha queixou-se de uma dor de cabeça excessiva. “Ela estava na casa da avó quando as dores começaram, os vizinhos até ouviram ela gritando e chorando, então meu cunhado levou ela à UPA”, completou.

A jovem deu entrada na unidade de saúde pública por volta das 18h, onde foi atendida pelo clínico geral. Thiago afirma que a mãe de Bruna disse ao médico suspeitar que a garota estivesse com meningite, uma vez que sua filha já possuía o histórico da doença.

“A Bruna já teve um caso semelhante há três anos, foi diagnosticada com meningite e ficou quinze dias na UTI em tratamento, saiu sem nenhuma sequela, da última vez ela também se queixava de dor de cabeça muito intensa. A todo momento a mãe dela falava para o médico que achava que era meningite pelos sintomas serem idênticos”, afirmou o pai da menina.

Thiago ainda contou que o médico chegou a dizer várias vezes que a paciente estava aumentando a intensidade do problema. “Ele foi examiná-la, e ela não conseguia nem encostar a ponta do queixo no peito de tanta dor, muito menos mexer a cabeça, o médico repetia para ela ‘parar de frescura’. A princípio ele não queria pedir exame nenhum, só solicitou porque a mãe dela ficou insistindo.” Relembrou o pai de Bruna.

Por volta das 23h o médico plantonista acompanhado por uma pediatra avaliou Bruna da porta da enfermaria, ambos persistiram que as dores que a menina apresentava não tinham relação com meningite e que o mais indicado seria ela permanecer em observação até às 7h da manhã para repetir os exames. O procedimento deveria ser repetido porque a máquina de hemograma da UPA poderia estar estragada, revelando alterações nos resultados.

No dia seguinte Thiago e sua esposa, Simone Santana, angustiados decidiram tentar transferir Bruna para outro local. Sendo assim, entraram em contato com a Santa Casa de Misericórdia de Passos, onde conversaram com o setor de regulação de acesso, onde contataram o médico plantonista que por coincidência era um conhecido do casal e conseguiu facilitar a transferência da paciente. “O médico da UPA não voltou mais na enfermaria e nem entrou em contato com o plantonista da Santa Casa para passar o quadro clínico da Bruna, ele apenas largou ela e tratou-a com indiferença a todo momento” contou Thiago indignado.

Na segunda-feira 8 de maio, após muita insistência dos pais, a pré-adolescente foi transferi-la para a Santa Casa de Misericórdia de Passos, onde ela já chegou com baixo nível de consciência e logo foi entubada. Bruna não resistiu e na quinta-feira dia onze de maio, sofreu morte encefálica declarada em decorrência da meningite.

A MOBILIZAÇÃO:

No dia das mães, Simone Santana, emocionou todos os presentes no desfile de aniversário da cidade ao pronunciar-se a respeito do ocorrido e lamentou o fato de sua filha ter sido “tratada como um objeto sem alma durante treze horas na UPA”.

A RÉPLICA:

Em resposta ao acontecido, o prefeito de Passos Renatinho Ourives visitou os familiares de Bruna e publicou uma nota em suas redes sociais, onde expressou seu profundo pesar pelo falecimento da pré-adolescente. Após a administração Municipal divulgar em sua defesa uma nota de esclarecimento, o prefeito afirmou que o Conselho Municipal de Saúde vai realizar uma sindicância para apurar os fatos da noite em que Bruna foi internada, e caso seja comprovada alguma negligência ou irregularidade, serão tomadas as providências cabíveis.

Entre os médicos e enfermeiros envolvidos, apenas a pediatra entrou em contato com a família. “Depois do ocorrido, nós tivemos um breve diálogo por meio de redes sociais com a médica, já com o plantonista não tivemos nenhum contato. O que nos deixa chateados é que eu como enfermeiro, os vejo como colegas de atuação no hospital. Fico completamente decepcionado com o atendimento deles “, finalizou Thiago Fonseca.

ESCLARECIMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Após os questionamentos levantados e reclamações recebidas, a Administração Municipal de Passos, por meio da Secretaria de Saúde, afirmou que no início desta gestão, recebeu a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) em situação grave: com falta de medicamentos, equipamentos danificados, sendo que alguns se encontravam sem manutenção por mais de seis meses, além de repasses financeiros pelo Governo do Estado suspensos.

A Assessoria de Imprensa do município, também, enviou para nossa equipe uma nota esclarecendo todos os fatos:

Diante da realidade encontrada, a administração criou – logo no início da gestão, ainda em janeiro – uma comissão especial para avaliação das condições e para qualificação da UPA. Participam desta comissão representantes do Conselho Municipal de Saúde, profissionais da Saúde especialistas em Urgência e Emergência, professores da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e o Ministério Público, com participação efetiva do Promotor de Justiça Eder da Silva Capute, inclusive nas visitas ‘ in loco’ .

A partir do diagnóstico desta Comissão de Qualificação, concluído no fim de março, foi criada uma matriz de intervenções a ser feitas junto aos procedimentos e profissionais da UPA, o que está em andamento , com acompanhamento pela própria Comissão de Qualificação, pelos gestores da Secretaria de Saúde, pelos membros do Conselho Municipal de Saúde, pelos membros da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, e pessoalmente pelo Prefeito Municipal.

Apesar do processo de soluções não ser tão rápido como a administração gostaria, as melhorias já alcançadas têm sido sustentáveis.

Durante o decreto emergencial de calamidade financeira do município, nos cem primeiros dias de governo, a gestão municipal priorizou as maiores necessidades, como oxigênio, insumos mais necessários e medicamentos.

A situação financeira do município requer empenho com boa gestão e controle financeiro, mas graças à obtenção da CND (Certidão Negativa de Débitos), os repasses financeiros vindos dos governos estadual e federal voltarão a chegar ao município. Nesta semana, os estoques de medicamentos de competência do Município foram regularizados, com abastecimento para 90 dias. Foi também autorizada pela Prefeitura uma licitação no valor de R$ 100 mil para fazer a compra de medicamentos que deveriam ser fornecidos pela Secretaria de Estado da Saúde, o que, entretanto, não vem ocorrendo.

A Secretaria de Saúde está empenhada numa melhor qualificação dos profissionais de saúde, humanizando mais o atendimento na UPA e nas demais unidades de saúde. Para isso, um trabalho integrado está sendo preparado com a Secretaria de Assistência Social e Secretaria de Educação.

Neste dia 27 de maio acontece na Câmara Municipal de Saúde a Conferência Municipal de Saúde, onde serão discutidas as propostas da população para a gestão de saúde, definindo as prioridades da administração para aplicação dos recursos em saúde nos próximos quatro anos, priorizando as maiores necessidades apontadas pela população.

Quanto ao tempo de atendimento, a coordenação da UPA tem trabalhado para atender a demanda de forma mais rápida, conscientizando a população para procurar as ESFS em problemas de saúde menos graves e que não demandam a urgência no atendimento, priorizando o atendimento da UPA para os casos mais urgentes.

O atendimento da UPA utiliza o Protocolo de Manchester, priorizando os casos mais graves para atendimento prioritário e de forma mais rápida.

Quanto ao atendimento de saúde ocorrido na UPA com o caso de meningite da paciente Bruna, uma sindicância interna foi instalada imediatamente e está apurando os fatos relativos ao atendimento prestado

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