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Espelho, espelho meu, por que reflete uma imagem que não sou eu?

A influência do Instagram na autoestima e na busca por cirurgias plásticas.

Julia Evellin


Com cerca de 1 bilhão de usuários, sendo a maioria mulheres entre 18 e 34 anos, o Instagram se tornou uma das maiores redes sociais do mundo. Criado para compartilhar fotos, a rede social transformou-se em uma fonte de renda para as centenas de influenciadores digitais que trabalham com a produção conteúdos diversos e propaganda. Suas vidas aparentemente perfeitas chamam atenção, geralmente são mulheres jovens, belas, que vivem entre viagens, festas, e postam essas experiências para milhões de seguidores.

Durante o período de isolamento social causado pela pandemia de COVID-19, no qual o tempo gasto nas redes sociais foi maior, um fenômeno chamou atenção de alguns ativistas e usuários: a explosão da divulgação de cirurgias plásticas na plataforma. Várias blogueiras compartilharam seus procedimentos estéticos para seus seguidores, gerando um debate sobre como essa exposição influencia na autoestima de meninas e mulheres ao incentivar a realização de intervenções cirúrgicas apenas para “melhorar” a aparência.

Segundo a psicóloga Lara Lopes Godinho, a maioria de seus pacientes é adolescente e todos possuem demandas relacionadas à autoestima. Para ela, a busca pelo corpo perfeito visto no Instagram gera uma culpa enorme nas mulheres que não se encaixam no padrão e isso pode ser demonstrado com pesquisas recentes.

A Royal Society of Public Health publicou um estudo apontando que 7 dos 10 jovens entre 14 e 24 anos participantes alegaram que a rede social faz com que eles se sintam pior em relação a própria imagem. O efeito é ainda maior entre as meninas: 9 em cada 10 disseram ser infelizes com seus corpos e afirmaram pensar constantemente em mudar a própria aparência, inclusive através de cirurgias plásticas. Em outra pesquisa realizada em 2017 pela a Academia de Cirurgiões Plásticos do Brasil, 55% das pessoas que fizeram procedimentos estéticos naquele ano tinham como referência os efeitos obtidos com recursos do Instagram.

Aliados ao fato de que o Brasil lidera o ranking mundial de país onde as pessoas mais realizam cirurgias plásticas no mundo, não só em pessoas adultas, mas também em adolescentes, categoria que registrou aumento de 141% na última década, esses dados indicam que há uma grande influência da venda dessa imagem perfeita, que é feita no Instagram, na construção da autoestima e, consequentemente, na busca por procedimentos estéticos.



No auge da popularidade do Instagram, as pessoas mais influentes eram as chamadas “Musas Fitness” que indicavam dietas e exercícios sem nenhuma formação profissional relacionada. A estudante Karine Kristine Costa Silva, que desenvolve uma pesquisa sobre o movimento Body Positive, diz que “o efeito disso é a crescente de buscas por procedimentos estéticos entre jovens e adolescentes, que são parte considerável dos usuários da rede social.”

Mesmo tentando não consumir esse tipo de conteúdo, a estudante de 17 anos Geovanna Lara Maia Peres, afirma que é inevitável que ele chegue a sua página inicial do Instagram. Segundo ela, além da rede social ter apresentado diversos procedimentos estéticos que desconhecia, o fato de saber que eles deram certo para outras meninas e mulheres a encoraja a recorrer a esses métodos. “Tenho vontade de fazer lipo LAD, redução de papada, mamoplastia e colocar silicone […] A partir do momento que a informação é jogada no nosso colo, acaba facilitando o processo, pois presumo que não teria coragem de fazer nenhuma cirurgia se não soubesse que deram certo para outras pessoas. Além disso, se não fosse por uma influenciadora eu nem saberia a existência da cirurgia da Lipo LAD, que é a que eu mais tenho vontade de fazer.”

A divulgação irrestrita causa outro problema muito pontuado por ativistas do movimento Body Positive, a falta de informações reveladas a respeito dos riscos e complicações que podem acontecer durante ou após a cirurgia, ocultando um fato fundamental no momento de decisão. Recentemente a influenciadora digital Sté Matos divulgou seu arrependimento após realizar uma rinoplastia que teve uma serie de complicações durante o período de recuperação. Outro caso que levanta um alerta sobre essa cultura das cirurgias plásticas foi a morte da também blogueira de 26 anos, Liliane Amorim, que faleceu após realizar uma lipoaspiração.

Porém, mesmo sendo as grandes garotas propagandas da cirurgia plástica brasileira, as influenciadoras digitais também são extremamente afetadas por esse padrão de beleza do corpo magro e branco. A pressão para a imagem perfeita é ainda mais intensa quando se é uma pessoa pública. Portanto, recorrem a esses mesmos procedimentos para se encaixarem: “elas também estão buscando aprovação, buscando o corpo perfeito dentro de uma sociedade que nos impõe nossas imperfeiçoes como erros” diz Lara Godinho.

O movimento Body Positive, recente no Brasil, ganhou as redes sociais com denúncias contra essa realidade e divulgando os corpos reais, para que toda essa influência negativa seja substituída por uma saudável, inclusiva e acolhedora. “O Body Positive trouxe um novo olhar para os corpos, deu espaço para quem nunca foi ouvido. Ele está ensinando a olharmo-nos com mais carinho, a nos respeitar e entender nosso corpo, marcas e especificidades” diz Karine.

Hoje, Geovanna afirma que consegue compreender que muito do que é postado no Instagram não é real, porém completa dizendo que o caminho para sair dessa teia de aranha não é fácil: “até eu entender isso tudo, ver com perspectiva do que se tratava e do quão tóxico isso poderia ser para minha saúde mental foi um processo longo e doloroso de desconstrução”

Todas as mulheres são afetadas pelos padrões de beleza. Mesmo as que possuem conhecimento sobre sua função social, ou aquelas cuja imagem seja correspondente a esses padrões, sofrem pressão estética. Trabalhar o autoconhecimento e a autoestima é essencial para que meninas e mulheres não caiam nas garras dos padrões impostos e compreendam que há uma razão para sua existência. Afinal, como denunciado pela escritora feminista Naomi Wolf, o mito da beleza é uma das formas de violência contra a mulher, uma ferramenta de controle dos corpos femininos.

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