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Quando o cheiro da comida virou símbolo de permanência: o RU chegou à UEMG Passos

  • Foto do escritor: Contextualize UEMG - Passos
    Contextualize UEMG - Passos
  • há 13 horas
  • 3 min de leitura

Por Lívia Peres


Na manhã de 4 de julho de 2025, a Rua Sete de Setembro, número 1519, parecia respirar diferente. Não era só pelo cheiro de alho dourando na panela ou pelo vapor denso que escapava da cozinha recém-adaptada. Era porque, ali, começava a funcionar uma conquista desenhada antes mesmo de ser possível, o Restaurante Universitário da UEMG Passos.

A fila de estudantes se formou antes das autoridades discursarem. Antes das falas, antes das fotos, antes do corte simbólico da fita. Às 10h30, enquanto a cerimônia se iniciava no Bloco 6, vizinho ao RU, dezenas de alunos já ocupavam o espaço com fome — fome literal e também de permanência, de estrutura, de reconhecimento.

O restaurante não foi construído do zero. Ele foi moldado dentro daquilo que a universidade já tinha: um espaço físico adaptado, uma vontade política alinhada e uma urgência social inadiável. O RU foi criado ainda na época que a Universidade era FESP, entretanto, atuava como um restaurante comunitário e atendia não apenas estudantes, mas também toda a comunidade passense, funcionou até o início da UEMG.

A decisão de lutar por ele não veio de gabinete. Foi em 2022, numa reunião entre centros acadêmicos, que a demanda foi oficialmente colocada sobre a mesa. Com um diagnóstico claro: o maior obstáculo da universidade pública, depois do acesso, é permanecer nela.

Em 2023, começou o grupo de articulação. Dois anos depois, o cardápio deixava de ser ideia e passava a ser servido. Ao custo de R$4 por refeição — e gratuito para quem recebe o auxílio PEAES —, o RU oferece almoço de segunda a sábado e jantar de segunda a sexta. Cerca de 1.800 refeições por dia. Um subsídio de até R$16,92 por prato. E, principalmente, o fim da lógica de que estudar com fome é uma etapa inevitável da formação acadêmica.

“Essa é uma conquista que me orgulha profundamente. Agora esse restaurante é uma política pública. E isso exige de nós o compromisso de avançar. Esse é só o começo.” A fala da deputada estadual Lohana França, no centro da cerimônia, teve o tom de quem entende que a entrega não encerra a pauta — apenas a inaugura em outros territórios.

Para Vinicius D’Ávila, vice-diretor da unidade, a linha do tempo do RU não começa no edital ou na adaptação do espaço: “A partir do momento em que um estudante pediu, essa luta começou. Foram anos de trabalho, sim. Mas foram muitos mais de reivindicação.”

A presença de políticos, como o deputado Cássio Soares e o prefeito Diego Oliveira — egresso da própria UEMG —, não apagou a origem do projeto: o movimento estudantil. Representantes do Diretório Acadêmico e do DCE acompanharam a inauguração sabendo o quanto precisaram insistir até ali.

O prefeito colocou em pauta a importância da alimentação, não apenas de forma nutricional: “Pode parecer pouco, mas ter uma alimentação de qualidade com preço acessível muda tudo. Inclusive dentro da sala de aula.”

A direção da unidade também foi firme em reconhecer o impacto real da iniciativa. Hipólito Ferreira relembrou situações comuns na vida de muitos estudantes: “Eu vi alunos irem de mercado em mercado procurando produtos vencidos para poder comer. Isso agora precisa mudar. O RU garante dignidade, qualidade nutricional e permanência.”

Entre os estudantes entrevistados, o discurso se repete com nuances particulares. Giovana Couto, do curso de Biomedicina, contou que muitas vezes não almoçava por falta de tempo e estrutura. Nicole Ferreira, do Direito, afirmou que o RU não só reorganizou sua rotina como trouxe um senso de valorização: “Agora minha alimentação está certa, meus horários também. Isso mostra que a gente foi ouvido.”

Já Isabela Cunha, também da Biomedicina, apontou o ponto mais crucial: “Quando a alimentação deixa de ser uma preocupação diária, o aluno pode finalmente estudar.”

A reitora Lavínia Rodrigues encerrou o evento lembrando que essa é uma conquista sem precedentes. O RU de Passos é o primeiro da Universidade do Estado de Minas Gerais: “E é importante dizer isso, para que venham o segundo, o terceiro, e todos os outros. Essa é uma vitória coletiva, mas construída por quem mais importa: o corpo discente.”

Não houve euforia exagerada. Não houve espetáculo. Houve cheiro de comida. Havia estudantes em fila. Havia memória e futuro dividindo espaço no mesmo prato. E, nesse dia, o RU deixou de ser apenas um direito escrito em pauta estudantil — passou a ser servido, temperado, consumido, sustentando dias mais justos.

Celebrar a chegada do Restaurante Universitário é, também, uma forma simbólica — e profundamente concreta — de comemorar os 10 anos da estadualização da UEMG em Passos. Em vez de placas ou retratos, a universidade escolheu marcar sua década de história com arroz, feijão, dignidade e permanência. Uma decisão que honra o passado, nutre o presente e constrói, com mais firmeza, o futuro.

Créditos vídeo:

Repórter: Júlia Dias

Captação: Júlia Dias e Lívia Peres

Edição: Lívia Peres

Roteiro: Lívia Peres

 
 
 

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