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Por um mundo com mais feiras

Em tempos sórdidos de intolerância pelas diferenças, ir à feira, numa manhã de sábado ou, na tarde de qualquer dia, purifica o estilhaçado coração sem rumo, que batuca no peito um triste sentimento de ineficácia. Toda dor e desespero incalculáveis se dissolvem ao irmos a uma feira sentir e ver sua diversidade.

No banco de canto de uma das barracas, eu vejo a cidade resumida em gente ali. Passa gente, sai gente, chega gente, conversa de gente, risada de gente, cara feia de gente, cara bonita de gente, simpatia de gente, peculiaridades de gente. Tem gente bem vestida, mal vestida. Tem gente. Muita gente. No continente dos singelos feirantes, o mundo respira paz e canta o suspiro da harmonia.

Eu não preciso mover minhas pernas para conhecer tanta gente. Meus olhos passeiam pela riqueza das diferenças. Tem homem sem dente e que ri deliciosamente, tem moça bonita que nem olha para o lado, tem moça bonita que sorri para o velhinho, tem moleque que te pede grana e, um minuto depois, na sua frente, pede o mais caro dos pasteis e te olha ironizando. Um olhar que claramente ri da sua cara dizendo: “te enganei, eu tinha mais do que você pensava”. Uma mera semelhança de Cosme e Damião, personagens do filme Ó Pai, ó. Mas que o final seja o inverso para esses atores da vida real.

Quero mais um pastel, mais uma coca. Quero ficar olhando essa gente toda. Feira é terapia para a descrença. Feira é a motivação para acreditar que as coisas vão melhorar, ou ficarem menos ruins. Tanta vida em um pequeno espaço e a humanidade querendo diluir vidas em tanto espaço. Que os deuses feirantes nos protejam e tirai todo o infortúnio humano e nos mantenham corajosos diante da imbecilidade.

Mantenhamos a fé, meu povo de bem e paz. Vamos rindo e cantando as canções que gostamos. Pode ser samba, sertanejo, funk, rock, bossa nova, axé, bolero, e tantos outros ritmos e gêneros musicais. Só não podemos desafinar na música da esperança. E, quando a acidez iniciar os acordes, vamos acionar imediatamente o controle remoto para desligarmos o som.

Mesmo em tempos de crise nas finanças, de viagem cancelada, de churrasco sem picanha, de bar sem tira gosto, de guarda roupas desatualizado, de políticos indecentes, que possamos enxergar uma plenitude ilimitada.

Sejamos a resposta diferente do igual, assim como os feirantes, trabalhadores da vida, que pedem o nosso voto de confiança para ganhar a sobrevivência com plena simplicidade e retidão.

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