O sistema de mototáxi é amplo e variado na cidade de Passos. São mais de 20 agências em todo município que dispõem de inúmeros profissionais cuja função é transportar pessoas a diferentes lugares por um preço acessível (5 reais). Até mesmo quem nunca andou, por receio ou falta de necessidade, ao menos viu algum destes motoristas pelas vias; equipados com coletes refletores e ao som constante de seus “walkie-talkies”, a toda velocidade pelas ruas e avenidas da cidade.
Mas como é a vida destes profissionais que passam horas na rua sobre uma moto? O Contextualize foi apurar e entrou em contato com alguns deles.
Allison Lemos, de 24 anos, começou a trabalhar como mototaxista pela falta de outras alternativas de emprego no município, desde então, toda sua renda provém desta profissão. O jovem que já passou por inúmeras complicações e desafios em seu ofício, contou que é comum para um mototaxista estar constantemente exposto a assaltos ou a violência das ruas.
Allison também informou que épocas de festivais e eventos são os períodos que mais atraem clientela, no entanto, é também a fase mais arriscada. Clientes suspeitos ou embriagados sempre aparecem, mas ele supera todos os riscos.
Se um mototaxista tem desafios nas ruas, Patrícia Alves, de 33 anos, tem ainda piores, ela não enfrenta apenas as dificuldades usuais do ofício, mas também o machismo e assédio com os clientes.
Patrícia começou a trabalhar em 2006, como telefonista. Porém três anos depois foi às ruas como mototaxista. Ela foi mãe aos 15 anos de idade e o fato fez com que parasse de estudar e fosse buscar o seu sustento e o de seu filho a qualquer custo: “saio de casa todos os dias sem certeza de que volto, mas sou feliz assim”, desabafou.
Para ela, que trabalha nas agências Moto Táxi Santos e São Benedito, o emprego ao menos possibilita a manutenção de certas atividades familiares, dado algumas flexibilidades com os horários: “faço meu horário, vou para casa no horário que quero, posso levar eles (seus filhos) na escola etc.”.
Apesar de algumas vantagens, Patrícia relatou situações inconvenientes pelas quais passou com alguns clientes, embora afirme que a maioria deles a respeite. De acordo com ela: “sempre ouvimos comentário do tipo: ‘oi, ao invés de ganhar 5, quer ganhar 100 reais? Vai ser rapidinho…’”. Existem também aqueles que tentam apalpá-la ou se aproveitar de estarem sobre uma moto para segurar sua cintura maliciosamente.
Há ainda casos de muito preconceito, pois têm pessoas que insistem em associar a profissão de mototaxista como um determinante de orientação sexual, o que revela aspectos machistas e sexistas de nossa sociedade. Para Patrícia, a “maioria acha que toda ‘girl’ é lésbica, então tem certos maridos/namorados que falam ‘não gosto que vá conversando com ela, tá?’”.
A mototaxista também conta de aventuras engraçadas que viu ou viveu nestes 11 anos nas ruas: “me lembro de um dia em que um cara algemado fugiu de uma viatura. Meu colega de trabalho foi parado por ele que jogou uma camiseta sob as mãos para esconder as algemas. Aí andaram quase um quilômetro, até que a polícia os cercaram!”, ela lembra da cena quase hollywoodiana. Patrícia também se recorda dos casos em que levou clientes bêbados ou dos que derrubados pela embriaguez se deitam nas vias e dos quais ela precisa desviar para evitar uma tragédia. “Tem alguns que põe o capacete ao contrário e dizem que tá tudo escuro!”, conta ela rindo ao relatar a cena.
Mesmo que Patrícia cumpra 12 horas de atividade, ela afirma gostar do trabalho, pois sem ele, não teria condições de ter acesso a vários serviços que são básicos, mas ainda restritos para parcela considerável da população: “não posso ir a uma academia, ter um plano de saúde, dentista, TV, internet… pra isso tenho que trabalhar 12 horas ao dia”.
Independente dos perigos que as pessoas pensem correr ao fazer uso de um mototáxi, provavelmente estes são receios mínimos quando comparados com os riscos sofridos por Allison, Patrícia ou qualquer um dos mototaxistas da região. Estes profissionais arriscam-se todos os dias e fazem da moto seu sustento, enfrentam a violência e a imprevisibilidade das ruas de Passos, onde fazem um trabalho digno e prestam um importante serviço para cada homem ou mulher que precise chegar ao seu destino.
Comments